domingo, 2 de outubro de 2011

Uma aventura:Um homem medindo a avenida com um pedaço de pau.

Outro dia estava voltando para casa de táxi com colegas/amigos do trabalho após um turno pela noite no serviço. (A empresa banca o táxi, por isso que voltávamos por esse meio de transporte.)

Era por volta de meia-noite e meia quando nos deparamos na avenida Tiradentes em São Paulo um homem sentado na beira da avenida com um pedaço de pau ao chão. Passamos por ele e o taxista resolveu parar um pouquinho à frente para ajudar aquele homem. Ele disse para o perdoarmos, mas que não podia deixar um ser humano ali com sério risco de ser atropelado.

De fato ele estava corretíssimo em sua postura. Eu e mais dois amigos (Éverton e Elaine) permanecemos dentro do veículo enquanto o taxista pedia àquela pessoa sentada sobre a avenida que saísse de lá e ficasse na calçada. Para quem pensava que simplesmente bastasse pedir isso à pessoa e que ela fizesse a solicitação, enganou-se. O homem se recusou a sair do chão.

Ele estava com um pedaço de pau de madeira sobre o chão. Até então não sabíamos o motivo pelo qual ele detinha esse objeto consigo. Como percebemos do carro que a situação estava começando a demorar, resolvemos sair do táxi para ver o que se passava afora.

Chegamos próximo aos dois. O taxista insistia para o homem sair e o homem não saía. Esse homem disse que estava medindo o tamanho da rua...Isso mesmo que você leu: ele disse que estava medindo a rua com aquele pau de madeira sobre o chão da avenida.

Quando ele disse isso, logo pensei que ele estava bêbado. Mas não reparamos um cheiro sequer de álcool vindo dele, embora ele conversasse conosco como comportamento de meio embriagado.

O taxista resolveu ligar para a polícia. De fato aquele homem não podia ficar daquele jeito de nós irmos embora e deixá-lo lá. Até mesmo o taxista disse se um pai ou mãe de família atropelasse o homem, quem pagaria "o pato" seria justamente esse homem ou mulher de família por causa disso. Curiosamente, o taxista era muito parecido com o autor de novelas Aguinaldo Silva. O cabelo e até os óculos eram parecidíssimos - mas não era ele não - somente aparentava. (Risos)

Bom, do outro lado da avenida havia uma viatura de polícia e estava um pouco distante.Mas essa distância não era tão evidente. Ele podiam nos ver. O taxista fazia gestos. Até gritava e nada dos policiais se manifestarem. Tanto é que minutos depois foram embora sem sequer virem até nós. Quando saíram até pensávamos que viriam até a gente. Puro engano nosso.

O homem "medidor da rua" não queria sair em hipótese alguma. Mas instantes depois tanto minha amiga Elaine quanto o taxista conseguiram levá-lo até uma calçada onde ficava um ponto de ônibus. Quando imaginávamos que tudo estava solucionado, eis que ele sai da calçada e volta para o mesmo lugar de origem: sentar-se quase no meio da avenida para medi-la.

Hum...já tinha visto que esse negócio iria longe. E foi mesmo. Aquele só foi o começo da aventura inusitada. (Risos).

Uns vinte minutos se passaram e nada da polícia aparecer. Nesse tempo a gente conversava com ele. Ele disse que era alagoano e que fazia tratamento psiquiátrico. É...de fato ele tinha mesmo problemas psiquiátricos. Tanto é que num momento ele perguntou-nos:

- Em que ano morreu Tancredo Neves?

Eu respondi:

- Em 1985.

Ele:

- Tá certo. Ele ficou adoecido e morreu. Agora eu pergunto: em que ano morreram os Mamonas Assassinas?

Eu respondi novamente:

- Morreram em 95.

Ele falou:

- Tá errado. Você não acertou, não. Errou!! Você errou, você errou... ( Ele insistia que eu tinha errado a resposta).

A Elaine me corrigiu desta vez. Ela disse que foi em 96. Realmente foi em noventa e seis. O homem "medidor de rua" até acrescentou detalhes de onde foi o acidente e o local. Percebíamos que era um homem inteligente, mas com problemas mentais.

Ele não queria sair da pista. Teve momentos que ele disse que queria morrer e que não se importava. Outros instantes ele chorava do nada.

Eu não me lembro do nome dele, mas ele tinha dito. Todo esse acontecimento estava mais de meia hora. A gente queria ir embora logo para casa. O taxista queria uma solução. E a polícia não aparecia em jeito nenhum. Outra curiosidade era que toda aquela situação acontecia quase que de frente para o batalhão da polícia militar que está localizada na avenida Tiradentes da cidade de São Paulo.


Sugeri tanto ao Éverton quanto ao taxista "Aguinaldo Silva"que fôssemos até o batalhão. Disseram que não adiantaria. Seria mais fácil eles debocharem, menosprezarem a ocorrência ou darem um tiro na gente do que saírem de lá para a resolução. A polícia não vinha.

Apareceu outro taxista para ajudar. O nosso taxista gesticulava aos condutores de veículos para que se desviassem dele e principalmente do homem "medidor de rua". O tempo todo os carros, ônibus e caminhões tinham que se desviarem. Até nós mesmos corríamos o risco de sermos atropelados. O movimento incrivelmente era intenso naquele horário.

O taxista "Aguinaldo Silva" parecia que ligava pela quarta ou quinta vez. A polícia não aparecia de forma alguma. Ele já estava impaciente. Nós também.

Aquele homem sentado sobre a avenida queria morrer, não queria sair de lá, queria medir a rua, chorava e eu sentia dó dele. Falávamos para ele sair da rua, para medir em cima da calçada. Dizíamos que ele era super inteligente, que não valia a pena morrer e etc, etc, etc. Até orava a Deus eu pedindo a Deus que tivesse misericórdia dessa alma. Esse homem que insistia em querer medir a avenida estava arrumado; não estava maltrapilho, não. Estava de calça. chapéu e bolsa de alça.

CET (Compainha de Engenharia de Tráfego).



E segundos depois surgiram umas quatro viaturas de polícia ao mesmo tempo. Diversos policiais saíram dos carros.

O cara da CET perguntou ao nosso taxista:

- Ele foi atropelado?

O nosso taxista respondeu:

- Nãããããõooooo!! Ele quer medir a rua!! É teu!! Ele é todo seu. Vâm' bora, vãm'bora, vâm'bora, genteeeee.É todo seu!!

A Elaine disse ao marronzinho, enquanto nosso taxista voltava para o carro:

- Tentamos tirar ele daqui , mas ele volta.

O Marronzinho:

- Ele volta?

-Tá, tá voltando.

Conversa vai, conversa vem, imediatamente o cara da CET tira das mãos do "medidor de rua" o pau de madeira. Diversos policiais ao redor do cara que "media".

O nosso taxista só falava:tchau-tchau-tchau, vam'bora...

Assim encerrou-se nossa aventura. Entramos no carro e fomos embora vendo atrás os policiais em torno daquele pobre homem.

Não sabemos o que os policiais fizeram com ele após nossa saída. Oxalá que tenha ocorrido tudo muito bem com ele. Não é mesmo?!

Mas enfim...é cada coisa que acontece...Nunca imaginei passar por uma situação como essa em plena madrugada. E assim voltamos para casa. Até minha mãe tinha me ligado em razão da minha demora de voltar ao lar.

Eu filmei somente o final da ocorrência no meu celular. Como não tive a esperteza suficiente de filmar desde o começo da conjuntura, não postei em nenhuma conta de YouTube. E como há outras pessoas envolvidas que estão na filmagem, melhor deixar quieto. O fato está registrado somente neste blog como palavras. Outro fato também é que eu nunca irei postar tal filmagem. Talvez daqui a algum tempo até delete ou eu dê aos envolvidos uma cópia, se assim se interessarem. Aí fazem o que bem entender. Certo?

O interessante foi poder compartilhar esse momento pessoal aqui neste blog. Uma aventura e tanto! Inté.